terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Primeiro médico indígena formado trabalhará para seu povo

A 85ª turma de Medicina da UnB marcou um feito inédito: entre os novos médicos estava o primeiro a ser formado pelo vestibular indígena. Josinaldo da Silva, representante da tribo Atikum, no sertão pernambucano, é o símbolo de um projeto de diversidade promovido pela UnB nos últimos dez anos. Engajado com a causa de seu povo, Josinaldo pretende usar o conhecimento adquirido na UnB no programa Saúde da Família, que leva saúde diretamente às comunidades.


No depoimento concedido à UnB Agência, ele conta que sonhava em ser médico desde que começou a trabalhar como agente de saúde, aos 22 anos, mas a falta de opções em sua região fez com que ele estudasse Matemática. Foi a criação do vestibular específico para indígenas na UnB que possibilitou a realização de um sonho. “As informações são mais difíceis na aldeia. Um grupo de colegas veio à capital em 2005 e descobriu as cotas”, conta. Me interessei de imediato. Com o curso de Medicina, poderia contribuir mais com a minha aldeia”. Leia abaixo trechos do depoimento de Josinaldo.

Chegada a Brasília

Confesso que quando passei, não acreditei. A ficha demorou um pouco a cair. Foi no início de 2006. Vim com uma colega e aqui me reuni com um grupo de indígenas de outros cursos. Éramos 13 cotistas ao todo: além da Medicina, havia estudantes de Enfermagem, Nutrição, Biologia e Farmácia. Foi muito difícil no início. Precisamos pagar um aluguel caro, não tínhamos referências, conhecidos, ninguém que se dispusesse a ser fiador. Além disso, tínhamos uma bolsa de R$ 900. Todo mundo sabe que isso é pouco para a cidade. Nossa salvação foi a Dona Socorro, que nos acolheu na 706 Norte e agiu como um anjo. Era paciente e compreensiva, nos apoiava quando a bolsa atrasava e sempre negociava os pagamentos.

A adaptação na cidade

Eu preciso ser sincero. Estou aqui desde 2006, mas nunca me adaptei. Acho que nunca vou me adaptar. Brasília é agradável, tem um ambiente gostoso, é uma cidade tranquila, mas é muito fechada. Eu estranho ainda viver num apartamento. A gente que é do mato sempre sente falta da natureza. É o nosso mundo, sabe.

Primeiras impressões da UnB

Foi outro momento difícil, pois tudo é estranho. A gente não conhece ninguém, não tem amigos. Acaba que passei, como outros colegas indígenas, muitos momentos de isolamento. E existe o preconceito, que ninguém admite, mas acontece. Quando era apresentado, a reação era sempre a mesma: “Você é índio, que legal, como é a vida lá na aldeia?”. Mas na hora dos trabalhos de grupo, nas conversas do intervalo, ficava sempre de lado ou por último.

O preconceito

Eu mesmo nunca ouvi, mas alguns colegas me relataram casos de professores que reclamavam por dar aulas para índios. Alguns colegas reagiram escondendo que eram cotistas. Com o perdão da expressão, acho isso uma sacanagem. Tem que enfrentar o preconceito, senão não supera a barreira. Temos de firmar o compromisso com nosso povo. E se começa uma conversa estranha, atravessada, eu corto na hora. Não permito prosperar.

Apoio de colegas e professores

É verdade que eu fiz poucos amigos. Mas esses são verdadeiros. Eles me ajudaram a transpor várias barreiras, me apoiaram no início, ajudaram nos estudos durante os primeiros semestres, quando precisei me adaptar ao ritmo da Universidade, a compreender bem toda a teoria que a medicina tem. O conhecimento nas aldeias é muito prático. A gente sabe que a coisa funciona, mas não sabe como. Na UnB é diferente, precisei estudar muito e o apoio dos colegas foi fundamental.

Alguns professores também são inesquecíveis. A Yolanda Galindo Pacheco e a Jussara Rocha Ferreira, da Anatomia, além de excelentes mestras, vestiam a camisa do grupo, defendiam as cotas e os cotistas. Elas apoiaram muito a nossa causa. Punham a mão no fogo pela gente. O professor Carlos Eduardo Tosta também foi importante, ele tinha uma sensibilidade, que eu chamaria de espiritual, e muito respeito pela tradições indígenas.

O futuro imediato

Agora estou lutando pela Residência. Não é fácil, mas tenho fé que tudo dará certo. Estou disputando uma vaga lá no Hospital de Planaltina. Quero seguir o caminho da Saúde da Família, é o que mais pode contribuir com a minha comunidade.

Meu objetivo é voltar pra aldeia tão logo termine a formação. É um acordo que faz parte do convênio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), mas é mais do que isso, é um compromisso meu com o meu povo, com os Atikum, minha origem e minha razão de estudar. O índio é o que pode cuidar melhor da saúde do índio, compreende os costumes, conhece a tradição. Um índio tem todas as condições de cuidar de uma tribo, reunindo o saber da universidade com o saber tradicional. É esse o meu objetivo.

Fonte: Assessoria da UnB

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Guerrilha do Araguaia: identificada a ossada de Preto Chaves

Quatro décadas depois da Guerrilha do Araguaia, a comissão que tenta localizar e identificar os corpos dos insurgentes do PCdoB reconhece os restos do guerrilheiro mais misterioso do conflito: o ex-marinheiro Francisco Manoel Chaves. Ele viveu quase toda a vida adulta na clandestinidade e morreu, aos 66 anos, emboscado na selva num combate com militares, em 1972.

Ilustração: Isto É
Além disso, quase nada mais se sabia sobre ele, nem sequer seu local de nascimento. Supunha-se que tivesse nascido no Rio de Janeiro, mas recentemente foi confirmado que ele era mineiro. Conhecido por Preto Chaves, mas também chamado de Zé Francisco ou Velho Chico, Francisco Chaves era um dos 163 desaparecidos políticos cuja história ainda está em aberto, segundo estimativas da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República.

As circunstâncias de sua morte e sua trajetória de vida, no entanto, têm tudo para ser elucidadas a partir de agora. Depois de fazer uma série de escavações na região do conflito, especificamente no velho Cemitério de São Geraldo, peritos do Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) descobriram três ossadas. Uma delas, que os peritos acreditam ser de um negro, foi identificada como sendo do guerrilheiro Preto Chaves. Como a investigação corre em segredo de Justiça, integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do governo preferem não anunciar a descoberta oficialmente antes da conclusão do processo. Mas Diva Santana, representante da comissão, admite: “De fato, um dos restos mortais tem muita chance de ser do guerrilheiro Chaves”, disse Diva.

A ossada atribuída a Chaves está em Brasília sob os cuidados do governo federal para análise antropométrica. Não existe até agora nenhum indício de que o militante comunista tenha deixado parentes para reconhecê-lo a partir de exames de DNA, o que poderia facilitar o trabalho. “Precisamos ainda fazer outras análises técnicas do caso, pois não sabemos se ele teve filhos, mulher ou qualquer outro parente”, diz Sávio Andrade, representante do Ministério da Defesa no GTA.

Agildo Nogueira Júnior, pesquisador do Instituto Maurício Grabois, ligado ao PCdoB, é o único estudioso que tem ajudado o GTA com informações sobre a vida de Preto Chaves. Há alguns anos, ele levanta informações sobre o guerrilheiro para a produção de um livro. “Interessei-me pelo caso, já que quase ninguém falava sobre ele. Essa cantilena de que os militares não possuem mais informações tem atrapalhado a pesquisa”, diz Júnior. 

Agora, com a descoberta da ossada, a apuração do pesquisador pode contribuir para o reconhecimento definitivo do corpo. Ele mostra, por exemplo, uma entrevista publicada no “Jornal Opinião”, de Goiás, na década de 1990, na qual o sargento do Exército identificado como J. Pereira, que combateu no Araguaia, admite que seu grupo matou três guerrilheiros.

“Foi tiro pra lá, tiro pra cá. No final, três guerrilheiros estavam mortos”, disse J. Pereira, que ainda está vivo. O sargento fez outras revelações importantes. Ele conta que deixou os corpos dos guerrilheiros no mesmo local em que os restos mortais foram encontrados agora pelo GTA. O sargento revelou também que Preto Chaves carregava no peito um cordão de terecô, um patuá da religião afro cujo “terreiro” era frequentado pelo ex-marinheiro. “Tínhamos informações de que o guerrilheiro negro era considerado feiticeiro”, disse J. Pereira, que se referiu ainda a “uns cordões amarrados” usados pelo guerrilheiro.

Zezinho (à direita) combateu na selva ao lado de Preto Chaves no Araguaia.
Ele contou que o ex-guerrilheiro frequentava terreiros de umbanda
A revelação do sargento sobre os cordões de terecô no peito de Chaves coincide com a informação prestada pelo militante Micheas Gomes de Almeida ou “Zezinho do Araguaia” ao pesquisador do Instituto Maurício Grabois. Zezinho, que conheceu e combateu na selva ao lado de Chaves, contou em 2007 que ele frequentava as sessões de umbanda na região do conflito e que carregava o patuá no peito. Zezinho confirmou a participação de guerrilheiros em cultos de religiões afro. “O Chaves participava dos terreiros.

Não podíamos destoar do dia a dia dos moradores locais. O João Amazonas (principal líder do PCdoB), por exemplo, puxava um terço danado”, revela Zezinho. De acordo com fontes do GTA, essas informações são preciosas para o reconhecimento oficial do corpo de Preto Chaves. “É muito pouco provável que um guerrilheiro negro, o que era raro, fosse enterrado, naquele mesmo local, com os cordões de terecô sem ser o Chaves”, afirmou um dos integrantes do GTA.

Antes do Araguaia, há algumas informações mais precisas sobre Chaves. Em 1935, ele participou do levante comunista contra o governo de Getúlio Vargas. Preso e torturado, foi trancafiado por meses no presídio da Ilha Grande ao lado de Graciliano Ramos. O escritor faz referência ao marinheiro em seu livro “Memórias do Cárcere”. Na década de 1960, Chaves filiou-se ao PCdoB. A partir daí, sua trajetória é obscura.


O episódio envolvendo Preto Chaves ilustra bem como os órgãos de segurança ainda tratam as informações sobre os ex-militantes comunistas e reforçam as críticas de que os militares têm sido pouco colaborativos. Até outubro do ano passado, a Marinha se recusava a tornar público o prontuário do ex-funcionário e ninguém do GTA tinha nenhuma informação sobre o guerrilheiro. Nem mesmo sua ficha de entrada na Marinha existia (ele entrou para a corporação militar em 1º de julho de 1928). 

Depois de intensas negociações, apareceu uma tímida folha da Polícia Civil do Distrito Federal que trazia algumas informações sobre Chaves. “É inconcebível que não exista nenhuma informação sobre a história de um ex-militar que serviu durante 33 anos, foi expulso e chegou a receber pensão. A Marinha tem a obrigação de abrir seus arquivos”, defende Júnior.

Fonte: Revista Isto É

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Bob Marley completaria 68 anos hoje

A data de hoje marca o nascimento de um dos compositores que dedicaram sua obra para representar os problemas sociais em versos. Este é Bob Marley, o responsável pela popularização da música reggae, da filosofia rastafári e também por defender a igualdade racial em suas canções.

Em 06 de fevereiro de 1945 em um Nine Mile, na Jamaica, nascia Bob Marley. Mulato, filho de um militar britânico branco e uma negra jamaicana, Marley foi por muitas vezes rechaçado por seus vizinhos negros, que o chamavam de mulato e zombavam também pela baixa estatura dele (1,63). As diferenças já sentidas em própria pele deram a Marley inspiração para lutar contra as desigualdades sociais, levando mensagens de paz, irmandade, igualdade, humanidade para todos os povos.

“Enquanto a cor da pele for mais importante que os brilhos dos olhos haverá guerrra, enquanto imperar a filosofia de que há uma raça inferior e outra superior, o mundo estará permanentemente em guerra. É uma profecia, mas todo mundo sabe que isto é verdade.”

A vida de Marley não foi muito longa, em 1981 ele faleceu, em Miami, vítima de câncer. Contudo a morte não impediu que sua missão fosse interrompida. Ao longo destes anos, cada vez mais suas mensagens foram expandidas pelo mundo, e suas canções continuam a ser referência na voz dos oprimidos, dos que esperam e lutam pela igualdade entre os povos.

Além disso, Marley continuou a granjear sucesso, sendo homenageado com prêmios como a canção da BBC do milênio para “One Love“, e foi incluso na Calçada da Fama, em 1994. Em 1999, a revista Time Magazine elegeu o disco Marley & The Wailers “Exodus” como o melhor álbum do século 20.

Na data de hoje, os fãs de Marley prestam homenagens ao cantor nas redes sociais. Milhares de mensagens já foram publicadas na página oficial de Marley, a tag #CelebrateBobMarley tem sido usada pelos internautas para expressarem suas honras ao cantor. Na página há ainda inúmeras fotos e vídeos, que também podem ser conferidos no site oficial, que traz ainda a trajetória do cantor.

Fonte: UJS

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Oposição critica vermelho de Dilma e vira piada nas redes sociais

Na falta de uma “crise no setor elétrico”, a oposição brasileira decidiu enveredar por uma nova vertente: a crítica de moda. Os estilistas do PSDB gastaram horas para decidir se era ou não vermelho o terno que a presidenta Dilma Rousseff usou durante o pronunciamento em cadeia de rádio e televisão no qual anunciou o corte nas tarifas de luz.

 Foto: Jefferson Bernardes/AFP
Por Cynara Menezes, para a CartaCapital*

Até o meio da semana, os tucanos tinham certeza de que Dilma usara vermelho. Em consequência, protocolaram uma representação na Procuradoria-Geral da República sob o argumento de que o objetivo subliminar seria promover o partido da mandatária do país, o PT. “A presidenta Dilma usou roupas vermelhas no pronunciamento oficial em uma clara referência às roupas vermelhas utilizadas na campanha de 2010 e nos programas partidários, fazendo alusão à cor do seu partido”, acusa o documento.

Já seria risível, mas ficou pior. A roupa não era vermelha, mas cor-de-rosa. “Inclusive combinava perfeitamente com o batom, da mesma cor”, disse uma fonte do Palácio, tão interessada nas últimas tendências do mundo fashion quanto o tucanato. O cabeleireiro da presidenta, Celso Kamura, foi taxativo. “Sem dúvida, rosa chiclete Ping-Pong.” Um conhecedor profundo de paletas de cores talvez batesse o martelo sobre a nuance exata do terninho: goiaba. Uma cor em voga neste verão. Dilma, pelo visto, está por dentro.

Coube ao novo líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, a incômoda tarefa de ir à Procuradoria, na terça-feira (29), entregar a representação contra as roupas de Dilma. “Entendemos ser vermelho, mas é um detalhe pequeno que faz parte de um contexto. Ela pode usar a cor que bem entender, só quisemos mostrar a mudança no comportamento dela. É a primeira vez que aparece nessa cor, porque em pronunciamentos anteriores, como no último, ela vestiu preto com uma renda branca por cima”, disse o deputado, aparentemente um conhecedor do guarda-roupa presidencial.

Tipologia vermelha

Além do terno de Dilma, o PSDB protestou contra as letras utilizadas no programa, “parecido”, segundo o partido, com a tipologia usada na campanha presidencial de 2010. A oposição cita em particular a “grafia do sobrenome” Rousseff. E contra o que viu como abuso na utilização da rede nacional de rádio e tevê. “A convocação de redes obrigatórias de rádio e de televisão somente pode ser realizada quando necessária para preservação da ordem pública, da segurança nacional ou no interesse da Administração”, diz a representação, amparada no Regulamento dos Serviços de Radiodifusão.

Para Sampaio, houve “mudança de padrão” no pronunciamento em relação às falas anteriores. “A presidenta Dilma fez clara antecipação da campanha eleitoral. Agiu de maneira a condenar a existência da oposição e tratou a oposição como sendo pessoas que não amam o país”, queixou-se o deputado. “O conceito de República foi abandonado”, bradou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

Não bastasse o daltonismo, a amnésia dos tucanos é flagrante: o apelo ao “republicanismo” é discurso fácil, mas em junho de 2002, em pleno ano eleitoral, o então presidente Fernando Henrique Cardoso convocou rede nacional para anunciar o pagamento da reposição das perdas que os trabalhadores brasileiros tiveram no FGTS em razão dos planos Verão e Collor, o que beneficiou 35 milhões de cidadãos.

“Assim como o Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, os avanços na saúde e na educação, a reposição do Fundo de Garantia é mais uma realização que outros governos não conseguiram e este governo conseguiu”, vangloriou-se FHC, a cinco meses da eleição presidencial, aquela que levou Lula à Presidência.

Exemplo de republicanismo

Exaltar as virtudes do Plano Real era frequente nos pronunciamentos de FHC em cadeia nacional durante seu governo. “Nós cuidamos primeiro do real, para que agora o real possa cuidar das pessoas”, afirmou, em 1997. Por causa desse pronunciamento, a oposição, representada pelo PT, PDT, PSB e PCdoB, recorreu à época ao Tribunal Superior Eleitoral. A alegação era idêntica: finalidade “eleitoreira”. A diferença, como de costume, está no posicionamento da mídia. À época de FHC, ninguém via desvios ou intenções ocultas em seu comportamento. Já hoje… A representação do PSDB ancora-se em editoriais e textos da Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e Veja com críticas ao pronunciamento “eleitoreiro” e “partidário” de Dilma Rousseff.

Os tucanos, ecoados pela mídia e vice-versa, criticaram o fato de Dilma se “vangloriar” da redução na conta de luz e, ao mesmo tempo, “atacar” os que fizeram previsões sem fundamento. Vale ainda a comparação: em seu primeiro pronunciamento em cadeia de rádio e tevê, em 1995, FHC fez o quê? Vangloriou-se do sucesso do Plano Real e atacou os “pessimistas”. “Muitos apostaram que o real iria desmoronar”, disse FHC. “Pois se enganaram.”

Chacota

A queixa à Justiça parece uma tentativa de minimizar os efeitos (esses ainda não mensuráveis) do corte nas tarifas de energia sobre a escassa simpatia popular ao partido. Antecipada pelo governo para 24 de janeiro e fixada em 18% no caso das residências e 32%, no da indústria e comércio, o corte nas tarifas foi uma boa notícia da qual o PSDB não só não participou como tentou sabotar. Três estados governados pelo partido – Paraná, Minas Gerais e São Paulo – decidiram não aderir à Medida Provisória que reviu os contratos das concessionárias, mesmo sob as críticas dos industriais, os maiores beneficiados. Mas a redução na conta de luz também ocorrerá nessas áreas.


No Palácio do Planalto, a notícia de que os tucanos tinham entrado com a representação virou motivo de comemoração. A avaliação geral era de que a oposição vestiu a carapuça ao se identificar como alvo das críticas veladas da presidenta, que em nenhum momento citou nomes ou legendas. E deu a chance de o PT criticar diretamente o principal rival em seu programa eleitoral na televisão, em maio. Uma possibilidade é apresentar o PSDB como o partido “a favor da conta de luz cara”.

Nas redes sociais, a chacota era mesmo sobre a tentativa de “proibir” Dilma de usar vermelho. A cada aparição de uma celebridade em cores rubras, como a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, no baile da posse, estonteante num longo vermelho, ou a bem menos vistosa chanceler alemã Angela Merkel (fotos acima), repetia-se a piada: “O PSDB vai proibir também?”


*Intertítulos do Portal Vermelho

Foto Michelle Obama por Maria Tama/ Getty Images/ AFP 
Foto de Angela Merkel por Bertrand Langlois/ AFP

Fonte: CartaCapital

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A UNE e a comunicação



Por Rafaella Dotta, no jornal Brasil de Fato:

De 18 a 21 de janeiro de 2013, foi realizado o 14º Conselho de Entidades de Base da UNE, em Recife. Os debates foram tão quentes quanto o clima e desencadearam promessas de parcerias entre a entidade estudantil e os movimentos sociais.

Com nomes de peso e uma sala lotada, a democratização da comunicação esteve presente entre os principais temas de debate da conjuntura. Os convidados que compuseram a mesa foram Nelson Breve (presidente da Empresa Brasileira de Comunicação – EBC), Altamiro Borges (presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa do Instituto Barão de Itararé) e Laurindo Leal Filho (professor da Escola de Comunicações e Artes da USP).

A comunicação foi ressaltada por seu potencial de contribuição à democracia. À medida que consegue investir poder e voz a grupos historicamente oprimidos, cria-se um campo de representações mais igualitário, baseado na força social do grupo e não no seu poder econômico. Esta concepção será necessária ao reformular as leis de comunicação, pois incide na relação entre mídia e público definindo quais serão as informações prioritariamente divulgadas.

Na América Latina, alguns países estão atualizando a sua legislação. É o caso de Bolívia, Argentina, Venezuela, Equador e México, onde está se dando atenção especial para o quesito convergência de mídias. Os chamados conglomerados de comunicação estão reunindo um número cada vez maior de veículos e criando interfaces entre eles, como no caso de um canal de TV que tem seus vídeos disponibilizados na internet. Os limites entre as mídias ficam, assim, quase impossíveis de serem definidos.

O professor Laurindo Leal pergunta à platéia: “Como fazer uma regulamentação considerando apenas a TV e o rádio?”. A telefonia, por exemplo, ocupa hoje um lugar relevante como fornecedora de informação, mas a sua regulamentação é da época em que celulares só faziam ligações. Em um chamado à atualização da Constituição brasileira, no debate defendeu-se que a comunicação seja tratada de forma conjugada. Ou melhor, de forma convergente.

Com apontamentos e demonstrações de avanço por parte de alguns governos latino americanos, olhamos para o Brasil. As análises apontaram um retrocesso em relação ao governo Lula. Segundo os debatedores, a única ação positiva, desde a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), foi a reativação do Conselho de Comunicação Social. E, para o ano de 2013, o comprometimento do governo em realizar uma consulta pública sobre o tema.

Apostando na dobradinha luta social mais pressão institucional, a UNE convocou a sua Jornada de Lutas para março de 2013 e, através da fala de líderes estudantis de quase todas as forças políticas que compõem a entidade, convidou os movimentos sociais à participação. De acordo com o presidente da UNE, Daniel Iliescu, os temas da Jornada são “conquistar mais direitos e avanços para o Brasil, como os 10% do PIB para a educação, o fim da violência contra a juventude negra, melhores condições de trabalho no campo e na cidade, e claro, mais democracia na mídia e na política’’.

O movimento por democratização da comunicação há muito chama a atenção das demais organizações civis para que se engajem nessa bandeira. E ultimamente, parece que a necessidade apareceu. É importante continuarmos colocando peso em nossos próprios veículos, mas a democratização dos meios de comunicação de massa significa não deixar que uma minoria, através do serviço de desinformação que prestam, siga colocando a população contra qualquer indício de um desenvolvimento mais igualitário.